quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Aspectos históricos da Alemanha


A história da Alemanha inclui os acontecimentos ocorridos nos territórios de língua alemã que correspondem aproximadamente ao Estado formado em 1871 em Versalhes, quando o Império Alemão, dirigido pela Prússia, foi constituído.
O Sacro Império Romano Germânico, que existiu desde o século VIII até 1806, é considerado o primeiro Reich alemão (Reich, Império, em alemão, termo usado para descrever os sucessivos períodos históricos do povo alemão). No momento de maior extensão territorial, o Império incluía o que são hoje a Alemanha, a Áustria, a Eslovênia, a República Checa, o oeste da Polônia, os Países Baixos, o leste da França, a Suíça e partes da Itália central e setentrional. A partir de meados do século XV, passou a ser conhecido como o "Sacro Império Romano da Nação Germânica". O Império Alemão de 1871-1918 é chamado de o Segundo Reich, de modo a indicar a sua descendência do império medieval. Segundo o mesmo raciocínio, Adolf Hitler referia-se à Alemanha Nazista (1933-1945) como o Terceiro Reich.
O termo "germanos" é usado para referir-se ao grupo ou grupos étnicos oriundos da Idade do Bronze Nórdica, que falavam línguas germânicas e ocupavam a chamada Germânia. A partir do período histórico do Sacro Império, pode ser empregado o termo "alemães" para designar os habitantes do Império.

Germanos e romanos
Entre 800 e 70 a.C., as tribos germânicas no norte migraram para território celta, avançando até os rios Oder e Reno e para o que é hoje a Alemanha meridional.
Por volta de 58 a.C., os romanos, por meio de uma sucessão de campanhas militares, tornaram o Reno a fronteira nordeste do Império Romano, o que levou à romanização da margem esquerda do rio e a incorporação das sociedades celtas centro-européias ao Império. Construíram-se fortes romanos em Colônia, Trier, Coblença, Mogúncia e em outros locais de modo a permitir a defesa da fronteira renana, onde os romanos e os germanos se encontravam frente a frente. Em 9 d.C., um exército romano chefiado por Públio Quintílio Varo foi derrotada pelo chefe germano Armínio, na Batalha da Floresta de Teutoburgo. A Germânia até o Reno e o Danúbio permaneceram fora do Império Romano.
A partir de 90 d.C., os romanos construíram o Limes, uma linha defensiva de 550 quilômetros do Reno até o Danúbio, planejada para conter as incursões germânicas na fronteira, bem como uma série de fortificações (como os de Wiesbaden, Augsburgo, Ratisbona e Passau). O século III assistiu à aparição de grandes tribos germânicas ocidentais - alamanos, francos, catos, saxões, frísios, turíngios. Em cerca de 260, os germanos finalmente romperam o Limes e a fronteira do Danúbio.
No século IV, o avanço dos hunos Europa adentro deu início a um período chamado de Grandes Migrações, que mudou completamente o mapa do continente europeu. Ao unificar os francos e conquistar a Gália, o rei merovíngio Clóvis tornou-se o fundador do Reino Franco. Em 496, os francos derrotaram os alamanos, aceitaram a fé católica e passaram a ser apoiados pela Igreja.
As províncias romanas ao norte dos Alpes já eram cristãs desde o século IV, e centros cristãos, como Augsburgo, foram mantidos mesmo após a queda do Império Romano do Ocidente. Entretanto, a partir de 600 d.C., houve um novo esforço missionário cristão dirigido às tribos bárbaras. Os mosteiros de Würzburg, Ratisbona, Reichenau e outros foram fundados por monges irlandeses. A atividade missionária no Reino Franco continuou pelas mãos do monge anglo-saxão Bonifácio, que estabeleceu o primeiro mosteiro a leste do Reno, em Fritzlar. Dioceses episcopais sob autoridade papal foram criadas para propagar a fé cristã nas terras germânicas.

Sacro Império Romano

Idade Média
Carlos Magno, por Albrecht Dürer.Em 751, Pepino, Prefeito do Palácio sob o rei merovíngio, assumiu o título de rei dos francos e foi ungido pela Igreja; os reis francos passaram então a atuar como protetores do Papa. Os sucessores de Pepino lançaram uma longa campanha contra os pagãos saxões, os quais terminaram por ser conquistados e convertidos a força, quando suas terras foram anexadas pelo Reino Franco.
De 772 a 814, o Rei Carlos Magno estendeu o império carolíngio até a Itália setentrional e os territórios de todos os povos germânicos, inclusive os saxões e os bávaros. Em 800, a sua autoridade na Europa Ocidental foi confirmada com a sua sagração como imperador, em Roma, estabelecendo-se, assim, o que viria a chamar-se Sacro Império Romano-Germânico. O reino franco foi dividido em condados e suas fronteiras eram protegidas por marcas.
Em 936, Otão I, o Grande foi coroado em Aachen. Fortaleceu a autoridade real ao nomear bispos e abades como príncipes do Império (Reichsfürsten), estabelecendo uma igreja nacional (Reichskirche). Em 951, casou-se com Adelaide da Borgonha (viúva do rei dos lombardos), recebendo então a coroa lombarda. As principais ameaças externas ao reino foram contidas quando Otão derrotou os húngaros na Batalha de Lechfeld (955) e subjugou os eslavos entre o Elba e o Oder. Em 962, foi coroado imperador, em Roma, a exemplo de Carlos Magno, passando a exercer portanto uma forte influência alemã sobre o Papado.
Em 1033, a Borgonha foi incorporada ao Reino dos Germanos, durante o reinado de Conrado II, primeiro imperador da dinastia sália (ou francônia).
Durante o reinado de seu filho, Henrique III, a Alemanha apoiou a reforma clunicense da Igreja — a "paz de Deus", a proibição da simonia (compra de cargos eclesiásticos) e o celibato dos sacerdotes. A autoridade imperial sobre o Papa atingiu o ápice. O Império continuava a expandir-se para o oriente — uma fortaleza imperial (Pfalz) foi construída em Goslar.
A Questão das Investiduras começou quando Henrique IV e o Papa Gregório VII divergiram a respeito das nomeações para cargos eclesiásticos. O imperador viu-se obrigado a submeter-se ao Papa em Canossa, em 1077, após haver sido excomungado. Em 1122, uma reconciliação temporária foi obtida entre Henrique V e o Papa, mediante a Concordata de Worms. Foram conseqüências da Questão das Investiduras um enfraquecimento da Reichskirche otoniana e o fortalecimento dos príncipes seculares alemães.
O período entre 1096 e 1291 é conhecido como a Época das Cruzadas. Estabeleceram-se ordens religiosas de cavalaria, inclusive os Templários, os Cavaleiros de São João e a Ordem Teutônica.
A partir de 1100, fundaram-se novas vilas em torno de fortalezas imperiais, castelos, palácios episcopais e mosteiros. As vilas começaram a estabelecer direitos e liberdades municipais, enquanto a população rural continuava na servidão. Diversas localidades tornaram-se Cidades Livres Imperiais, que não dependiam de príncipes ou bispos, mas estavam diretamente sujeitas ao Imperador. As cidades eram governadas por patrícios (comerciantes). Os artesãos formaram corporações, regidas por normas estritas, que procuravam obter o controle das cidades. O comércio com o oriente e o norte intensificou-se quando as principais cidades comerciais se uniram na Liga Hanseática, sob a liderança de Lübeck.
A expansão germânica em direção ao oriente fez com que camponeses e citadinos alemães, bem como a Ordem Teutônica, colonizassem territórios habitados pelos eslavos a leste do Oder (Boêmia, Silésia, Pomerânia, Polônia e Livônia), formando vilas e cidades.
Entre 1152 e 1190, durante o reinado de Frederico I (Barbarossa), da dinastia Hohenstaufen, chegou-se a um entendimento com o partido guelfo, por meio da cessão do Ducado da Baviera a Henrique o Leão, Duque da Saxônia. A Áustria tornou-se um ducado separado, devido ao Privilegium Minus de 1156. Barbarossa tentou recuperar o controle da Itália. Em 1177, o Imperador e o Papa finalmente lograram reconciliar-se, em Veneza.
Em 1180, Henrique o Leão foi considerado fora-da-lei e a Baviera foi outorgada a Otão de Wittelsbach (fundador da dinastia que governaria a Baviera até 1918); a Saxônia foi dividida.
O período de 1184 a 1186 assistiu ao zênite do império de Barbarossa. O poder dos senhores feudais foi reduzido através da nomeação de funcionários imperiais. A sofisticação da vida na corte levou ao desenvolvimento da cultura e da literatura alemãs.
O fracasso das negociações entre o Imperador Luís IV e o Papado fez com que, em 1338, seis dos sete eleitores declarassem em Rhens que doravante a eleição por todos ou pela maioria automaticamente conferiria ao eleito o título real (rei dos romanos) e o governo do Império, dispensada a confirmação papal. Entre 1346 e 1378, o Imperador Carlos IV de Luxemburgo, rei da Boêmia, procurou restaurar a autoridade imperial.
Em meados do século XIV, a Peste Negra dizimou a Alemanha e a Europa. Os judeus foram perseguidos com pretextos religiosos e econômicos; muitos fugiram para a Polônia.
A Bula Dourada de 1356 determinava que, no futuro, o Imperador seria escolhido por sete eleitores — os arcebispos de Mogúncia, de Trier e de Colônia, o rei da Boêmia, o conde Palatino do Reno, o duque da Saxônia e o Marquês de Brandemburgo.
Em seguida aos desastres do século XIV, a sociedade européia moderna veio à luz gradualmente, resultado de mudanças econômicas, religiosas e políticas. Surgiu uma economia monetária, que provocou descontentamento entre cavaleiros e camponeses. Um sistema proto-capitalista evoluiu aos poucos a partir do feudalismo. A família Fugger, por meio de suas atividades comerciais e financeiras, ganhou notoriedade; seus membros tornaram-se homens de finanças junto a governantes eclesiásticos e seculares.
Durante seu reinado (1493-1519), Maximiliano I procurou reformar o Império: criou-se uma Suprema Corte Imperial (Reichskammergericht), cobraram-se impostos imperiais, aumentou-se o poder da Dieta Imperial (Reichstag). As reformas, entretanto, foram frustradas pela contínua fragmentação territorial do Império.

Reforma Religiosa e Guerra dos Trinta Anos
No início do século XVI, era crescente o descontentamento na Alemanha com os abusos na Igreja Católica e havia um desejo de reforma. A Reforma Religiosa (ou Protestante) começou em 1517, quando Martinho Lutero pregou as suas "95 Teses" no portão da igreja do castelo em Wittenberg.
Em 1515, uma rebelião de camponeses da Frísia instaurou-se. Liderados por Pier Gerlofs Donia e Wijerd Jelckama, milhares de frísios lutaram contra a supressão de seus territórios pelo Imperador Carlos V. As hostilidades só tiveram fim em 1523, com a intervenção do exército holandês, quando as forças rebeldes (organizadas no Arumer Zwarte Hoop) perderam seus líderes, capturados e decapitados.
Em 1521, Lutero foi declarado fora-da-lei pela Dieta de Worms. Mas a Reforma propagou-se rapidamente, com o incentivo das guerras do Imperador Carlos V contra a França e os turcos. Escondido no Castelo de Wartburg, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, lançando as bases da moderna língua alemã.
Em 1524, estalou a Guerra dos Camponeses, na Suábia, Francônia e Turíngia, contra os príncipes e senhores governantes, segundo a pregação de certos sacerdotes reformistas. Mas as revoltas, apoiadas por nobres com experiência militar tais como Götz von Berlichingen e Florian Geyer (na Francônia) e pelo teólogo Thomas Münzer (na Turíngia), foram reprimidas pelos príncipes territoriais.
A Contra-Reforma teve início em 1545 na Alemanha. O impulso principal foi dado pelos Jesuítas, ordem fundada pelo espanhol Ignácio de Loyola. O centro e o nordeste da Alemanha tornaram-se protestantes, enquanto que o oeste e o sul permaneceram predominantemente católicos. Na Guerra da Liga de Esmalcalda, em 1546-7, Carlos V derrotou os governantes luteranos.
A Paz de Augsburgo (1555) reconheceu a fé luterana. O tratado também determinava que a religião de um Estado seria a do governante (Cuius regio, eius religio).
Carlos V abdicou em 1556. O Império Habsburgo foi dividido, quando a Espanha foi separada dos territórios germânicos. Em 1608-9, a União Protestante e a Liga Católica foram formadas.
O período de 1618 a 1648 foi marcado na Alemanha pela Guerra dos Trinta Anos. As causas foram os confrontos entre católicos e protestantes, os esforços dos diversos Estados dentro do Império no sentido de concentrar poder e a tentativa, da parte do Imperador, de concretizar uma união política e religiosa. A causa imediata da guerra foi o levante da nobreza protestante da Boêmia contra o Imperador (Defenestração de Praga), mas o conflito ampliou-se, tornando-se uma guerra européia, com a intervenção do Rei Cristiano IV da Dinamarca (1625-29), do Rei Gustavo II Adolfo da Suécia (1630-48) e da França, sob o Cardeal Richelieu, regente do jovem Luís XIV (1635-48). A Alemanha foi o maior teatro de operações da guerra e o palco da disputa final entre França e os Habsburgos pela supremacia na Europa. Como resultado da guerra, grandes áreas da Alemanha foram destruídas, com a perda de algo como um terço da sua população, e houve um empobrecimento geral.
A guerra terminou em 1648, com a Paz de Vestfália, celebrada em Münster e Osnabrück: a França e a Suécia receberam territórios anteriormente alemães, e os Países Baixos tornaram-se independentes do Sacro Império. O poder dos príncipes territoriais aumentou, em detrimento da autoridade imperial central, que se viu irreparavelmente abalada.


Fim do Sacro Império Romano
A partir de 1640, Brandemburgo-Prússia começara a destacar-se, sob o governo do Grande Eleitor, Frederico Guilherme. A Paz de Vestfália fortaleceu ainda mais a Prússia, por meio da aquisição da Pomerânia Oriental. Um sistema absolutista de governo foi adotado.
Em 1701, o Eleitor Frederico de Brandemburgo foi coroado "rei na Prússia". No período de 1713 a 1740, o Rei Frederico Guilherme I, também conhecido como o "Soldado Rei", estabeleceu um Estado altamente centralizado.
Entrementes, Luís XIV de França conquistara partes da Alsácia e Lorena (1678-1681), e invadira e devastara o Palatinado (1688-1697). Luís XIV aproveitou-se dos problemas do Império com os turcos, que ameaçavam a Áustria, mas terminou por desistir do Palatinado.
Em 1683, os otomanos sofreram uma derrota fora dos muros de Viena, nas mãos de tropas polonesas chefiadas pelo Rei João Sobieski; a cidade era defendida por forças alemãs e austríacas sob comando de Carlos IV, duque de Lorena. A Hungria foi reconquistada e receberia, mais tarde, colonos alemães. A Áustria, governada pelos Habsburgos, tornou-se uma grande potência.
Durante a Guerra de Sucessão Austríaca (1740-1748), Maria Teresa da Áustria logrou obter o reconhecimento de sua ascensão ao trono, mas teve que ceder a Silésia a Frederico II da Prússia, ao fim das Guerras Silésias e da Guerra dos Sete Anos. A Prússia, por sua vez, tornou-se uma grande potência após a Paz de Hubertsburg, em 1763, celebrada com a Áustria e a Saxônia. Começou então a rivalidade entre Áustria e Prússia pela liderança da Alemanha.
A partir de 1763, tanto a Prússia quanto a Áustria adotaram o "despotismo esclarecido": a economia desenvolveu-se, providenciaram-se reformas legais (inclusive a abolição da tortura e a melhoria do status dos judeus), teve início a emancipação dos servos e promoveu-se a educação.
No período 1772-1795, a Prússia participou da partilha da Polônia, ocupando territórios a oeste da Grande Polônia, o que começou uma resistência polonesa de séculos contra a presença alemã.
A Revolução Francesa provocou uma nova guerra entre a França e vários países a leste, inclusive a Prússia e a Áustria. Em seguida à Paz de Basiléia com a Prússia, em 1795, a França recebeu a margem esquerda do Reno.
Napoleão I da França recomeçou a guerra com o Sacro Império. Em 1803, ele aboliu quase todos os territórios eclesiásticos, estados pequenos e cidades livres imperiais. Estabeleceram-se novos estados de tamanho médio no sudoeste da Alemanha. A Prússia ganhou, por sua vez, território no noroeste.
O Sacro Império Romano-Germânico foi dissolvido formalmente em 6 de agosto de 1806, com a renúncia do último Sacro Imperador, Francisco II (a partir de 1804, Francisco I da Áustria). A dinastia de Francisco manteve o título de Imperadores Austríacos até 1918. Em 1806, a Confederação do Reno foi criada, sob a proteção de Napoleão.
A Paz de Tilsit foi assinada em 1807, após a derrota do exército prussiano frente às forças revolucionárias francesas em Jena e Auerstedt: a Prússia cedeu à França todas as suas possessões a oeste do Elba e estabeleceu-se o Reino da Vestfália, governado pelo irmão de Napoleão, Jérome. O Ducado de Varsóvia recuperou alguns dos territórios prussianos conquistados à Polônia.
No período de 1808 a 1812, a Prússia foi reconstruída e uma série de reformas regulou a administração municipal, a liberação dos camponeses e a emancipação dos judeus. A reforma do exército foi empreendida pelos generais prussianos Gerhard von Scharnhorst e August von Gneisenau.
Em 1813, tiveram início as guerras de liberação, em seguida à destruição do exército napoleônico na Rússia (1812). Após a Batalha das Nações em Leipzig, rompeu-se o controle francês sobre a Alemanha. A Confederação do Reno foi dissolvida.
Em 1815, Napoleão foi definitivamente derrotado em Waterloo por forças do Reino Unido, comandadas pelo Duque de Wellington, e da Prússia, sob Gebhard Leberecht von Blücher.

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